Quem é Wang Yaping, chinesa que vai fazer história no espaço

Quando a espaçonave Shenzhou-13 decolou no último sábado (16) do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan com destino à estação espacial Tiangong, ela levava mais que suprimentos e ferramentas para tornar o módulo chinês plenamente operacional. 

A bordo, a missão carregava um pedaço da história: Wang Yaping, a segunda mulher taikonauta (como são chamados os astronautas chineses) a deixar a Terra e a primeira com a missão de realizar uma caminhada espacial.

Discreta e pouco afeita a entrevistas, a militar de 41 anos tem uma formação incomum. Capitã da Força Aérea Chinesa, ela se juntou à Academia de Voo em 1997 e ganhou notoriedade ao participar da megaoperação de resgate durante o terremoto de Wenchuan, em maio de 2008, até hoje uma das maiores tragédias da história da China, com um saldo de mais de 69 mil mortos e 40 milhões de pessoas afetadas. 

Concluída a formação militar, decidiu se dedicar a outras áreas do conhecimento. Cursou mestrado em jornalismo na Universidade de Pequim e atualmente é candidata ao título de doutora na mesma instituição, desta vez estudando psicologia.

Em 2012, quase se tornou a primeira mulher chinesa no espaço, na missão Shenzhou-9. 

Acabou ficando na reserva, com a colega Liu Yang assumindo o posto. Wang só deixaria a Terra no ano seguinte e, a bordo da Shenzhou-10, estamparia manchetes em todo o país ao lecionar como professora convidada de ciências direto do espaço para uma escola primária. 

De lá, ela explicou o conceito de peso e massa em gravidade zero a várias crianças, em uma transmissão reproduzida por diversos canais de televisão.

As missões vieram a um grande custo pessoal. Casada desde 2006 com o piloto de avião Zhao Peng, Wang contou em uma entrevista que pretendia ser mãe quando foi convidada a integrar a equipe de taikonautas. 

Devido à bateria de exames e ao treinamento pesado, ela precisou adiar o sonho, para desgosto do marido. Quando voltou à Terra como heroína nacional, sua primeira reação foi de culpa.

“Posso ser uma taikonauta exemplar, mas não sou uma esposa qualificada. Outras mulheres podem acompanhar seus maridos em passeios, podem ir ao cinema. Isso é um luxo para mim. [Agora que voltei], espero poder sair para jantar com Zhao”, afirmou ela à imprensa logo depois de pousar.

A filha só nasceu em 2016. Com a criança, Wang cumpriu também uma exigência não oficial para todas as mulheres que desejam seguir carreira como taikonautas: serem mães. 

Responsável por selecionar os militares para as missões especiais, a equipe do Centro de Medicina Aeroespacial Clínica do Exército chinês argumenta que ainda não há evidências sobre como a exposição à radiação espacial afetam a fisiologia feminina. Assim, mulheres com filhos ganham prioridade para evitar que as missões interfiram no planejamento familiar das profissionais.

Missão mais longa da história

Pouco antes de decolar no fim de semana, Wang fez um post cômico em seu perfil no WeChat (superapp chinês, espécie de híbrido de Facebook e WhatsApp): uma imagem de um bonequinho vestido com traje espacial e a legenda “viajando a trabalho por seis meses”. 

Além de divertido, o post faz referência a um recorde histórico. Se tudo correr bem, a Shenzhou-13 deve durar 183 dias, a mais longa missão tripulada da China até hoje.

“Viajando a trabalho por seis meses”, escreveu Wang no WeChat.

Junto com os colegas Zhai Zhigang, 55, e Ye Guangfu, 41, Wang tem a missão de terminar a construção da estação espacial, prevista para operar a partir do ano que vem e servir como alternativa à Estação Espacial Internacional, controlada por americanos e russos. 

Na lista de tarefas, uma caminhada espacial para a instalação de cabos na Tiangong. Considerada uma das mais arriscadas atividades no espaço, a caminhada também entrará na história como a primeira realizada por uma mulher chinesa.

Ao deixar a Terra, a capitã foi questionada sobre a responsabilidade de carregar tantos marcos para as chinesas. Categórica, respondeu que “o espaço não muda só porque você  é mulher”. Bem humorada, disse qual será a parte mais complicada da missão: “Minha filha quer que eu traga estrelas para ela e seus colegas quando eu voltar. Ela me fez prometer que traria um punhado para que ela dividisse com os amigos da escola”.

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